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A violência nossa de cada dia

O simples fato de chegar a salvo em casa hoje em Itaberaba é motivo de comemoração. A violência tomou conta dos quatro cantos da cidade, deixando de ser problema isolado dos bairros periféricos e atingindo o município de forma generalizada. Já não nos surpreendemos ao receber notícias de roubos, furtos, agressões e até homicídios, o que nos leva ao limite do aceitável. Numa lamentável inversão de papéis, somos prisioneiros desse caos enquanto os criminosos caminham livremente. O império do crack, a intolerância no trânsito, a insegurança nos eventos públicos e a ousadia cada vez maior desses bandidos são fatos que não só nos revoltam, mas nos afetam inclusive à saúde, levando ao estresse, à estafa, à depressão ou à síndrome do pânico. Atribuir todo esse terror à ineficiência das polícias sempre foi cômodo e praticado pela maioria, entretanto, acreditamos que o combate à violência deve ser feito de maneira mais profunda, antes, atuando no sentido de sua prevenção e não somente tratando-a através da punição. Torna-se imprescindível o investimento em três pilares sociais nesse projeto: educação, cultura e trabalho. O indivíduo que consegue ter acesso a todos os níveis de ensino - sendo este oferecido com qualidade - estimulado pelo crescimento intelectual e profissional, terá obviamente menos chance de envolver-se na criminalidade. Nesse sentido, a chegada de novas instituições de ensino técnico e superior e da faculdade de Direito em Itaberaba são fatores a contribuir imensamente com a nossa sociedade, no entanto, a qualidade e garantia do acesso da criança e do adolescente ao ensino básico continuam sendo a prioridade que os poderes Legislativo e Executivo devem assumir. A escola sempre será a porta principal para a construção da Cidadania. É necessário ainda que não cruzemos os braços enquanto esperamos ou criticamos o setor público: a escola pública pode e deve ser de primeira qualidade e isso é dever de todos nós, enquanto cidadãos, pais de alunos, fiscais do dinheiro público. Tão relevante quanto a educação é o enriquecimento cultural de nosso povo. Atualmente nos vemos órfãos de grandes projetos de incentivo à cultura, que abranjam a população em sua totalidade valorizando as manifestações de cada comunidade, e talentos de todos as áreas são desperdiçados na cidade e na zona rural. Onde estão os maravilhosos grupos de teatro e poesia, os cantadores de chula, os artesãos a artistas plásticos? Por que nos contentamos com eventos que privilegiam “superbandas” vazias de qualquer conteúdo artístico enquanto desconhecemos nossas próprias Celebridades? Afinal, sabemos o real significado deste termo? Se “a cultura é a alma de um povo”, não deixemos que nos roubem até a alma. Por fim, citamos aqui o terceiro instrumento que acreditamos necessário ao combate ao crime: a garantia do trabalho a todos os cidadãos ativos. Como aponta Luiz Tadeu Viapiana em Economia do crime (2006), a grande maioria dos envolvidos em crimes de violência física é de desempregados, estatística que muito nos diz sobre o que leva ao aumento da violência em nossa cidade. Enquanto não se flexibilizar e viabilizar a entrada do setor industrial em Itaberaba, muitos de nossos problemas continuarão crescendo à medida que a população também cresce rápida e desordenadamente. Um sujeito que tem sua mão de obra e qualidade profissional aproveitadas certamente estará mais satisfeito e realizado em seu meio social, o que naturalmente o afastará das drogas, do alcoolismo e da criminalidade. Contudo, apesar do quadro caótico e para alguns irreversível que se apresenta, somos otimistas e temos esperança, refutando a ideia de que o progresso é inversamente proporcional à paz, citando como exemplo a queda dos índices de violência em Salvador durante o Carnaval deste ano. Depende de cada um de nós lutar para que o lema da bandeira do Brasil não seja apenas uma frase utópica a tremular nos eventos esportivos que tanto nos importam.


Cleber Teixeira

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